sábado, 21 de agosto de 2010

Retorno




Meus saltos altos e finos toctoavam lentamente na larga calçada enquanto meus olhos se enchiam de lágrimas. Os pensamentos estavam bem longe das belas vitrines que se dispunham diante de mim. As cores não me atraiam nem etiquetas, nem letreiros, apenas nosso último encontro.

Na mão o celular mudo denunciava que tudo tinha mesmo acabado. Há dias esperava que se arrependesse do impulso de dizermos adeus um ao outro, e me procurasse. Mas não o fez, e talvez nunca o faça. Sei bem o quanto é orgulhoso e como se antecipa em suas decisões, atitude que muitas vezes o magoa. Mas não desta vez.

Arrisquei chamá-lo ao telefone em mais uma de tantas tentativas. Deixei recados e recados. Quem sabe entenderia que da minha parte não havia mágoa, nem dissabores. Talvez entendesse, mesmo sem atender à ligação, que o amava e que me arrependia de nossa separação. O seu silencio me doía o peito. Era mais que um silêncio de significados, era um ato de desprezo, ou ódio. Sinto que fui deletada de sua vida, parecia, e nada o traria de volta.

Minhas pernas bambearam de tristeza e vi encostada a uma vidraça fria com vertigens e dores. O chão me fugia dos pés e minha mente turbilhava. Não suportaria perdê-lo. A vida não teria mais razão para mim. Como poderia estar você vivendo com minha dor, com nossa ausência? Onde estariam suas mãos, seus olhos, seus lábios que tanto me disseram e que tanto me beijaram com amor. Onde estaria agora meu homem?

As pessoas passavam alheias ao meu sofrimento, quis sentar, mas não havia onde. Precisava ir embora, mas não tinha forças.

Foi quando senti vibrar o celular com seu número na tela. Minha cabeça rodopiou e sequei ligeiramente os olhos para confirmar os algarismos, enquanto ia dizendo “alô”.

Um breve silêncio antecedeu sua resposta. Tremeram minhas mãos e gelaram meus dedos.

Até que, do outro lado sua voz máscula um tanto sôfrega como a minha, respondeu e foi dizendo que me queria de volta e que me amava que estava sofrendo muito. Disse tudo de uma só vez sem pausa. E completou que só voltaria se fosse para casar para termos pelo menos três filhos. Depois sorriu alto e esperou minha resposta.

Inerte, apoiada na vidraça permaneci. Balbuciei um sim, fraco e débil. Mas logo o corrigi em voz bem alta para não haver engano: Quero sim me casar com você e ter muitos filhos, dormir e acordar ao seu lado, quero chorar e rir com você, quero envelhecer ao seu lado, te amparar e sentir seus ombros amparando meu corpo frágil na velhice.

Isto é sim, querida? - disse-me entre risos

É. É o maior sim da minha vida. - respondi sorrindo

Rimos juntos e era tão bom o som de nossas risadas.



autor: Ana Maria Maruggi