segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Amor adolescente - carta - Ana Maria


Era sempre verão aos vinte anos. Todos os dias pareciam ser ensolarados e todos os corações apaixonados. Naquela época não sabia escrever cartas de amor senão as faria aos baldes.

Havia um par de olhos que me engolia todos os dias no caminho para a faculdade e eu não me esquivava deles. Fitava-os quando ia e depois quando voltava. Parado à porta do café você me acompanhava com o olhar malicioso até a porta da escola. Era tão presente que até me sentia segura nessa trajetória. Nunca me dirigiu a palavra, nem me seguiu, apenas olhava.

Um dia resolvi sorrir-lhe e um riso tímido saiu de mim, e você o acolheu discretamente num outro tímido sorriso. Daí por diante todos os dias trocávamos esse riso pequeno mas que era imenso dentro de mim.

Até que lhe disse “oi” e você respondeu além de acenar para mim. Fiquei tão entusiasmada que passei a escrever bilhetes que não enviava. O ano acabou e vieram as férias. Sofri sua ausência nesse período mas tinha esperança de vê-lo de novo quando as aulas retomassem. Queria passar pelo café e deixar-lhe uma carta mas não tinha intimidade com as letras. E a quem destinatária tal carta?

Em março quando voltei às aulas vesti minha melhor roupa para vê-lo à porta, mas não o vi e fiquei aflita. Caminhei até a faculdade me sentindo sem chão. Como andar sem seu olhar a me seguir? Senti remorso por não ter parado e perguntado de você. Meu trajeto foi angustiante nesse dia. Mas quando cheguei à faculdade lá estava você à minha espera. Livros à mão, sorriso nos lábios, e brilho no olhar. Senti meu coração se encher de alívio. Agora estaríamos juntos pelo ano inteiro...

Namoro virtual - carta - Ana Maria


Copo na mão e pensamento absorto. Lá estava você num canto do balcão, calado, sozinho à espera de alguém. Preocupado com a aparência, vez ou outra ajeitava o paletó, os cabelos. Às vezes olhava para trás para certificar-se que sua companhia não chegara. Sobre o balcão o celular calado, e uma rosa vermelha cansada de esperar. Observei atenta seu rosto moreno, cabelos com gel penteados para trás, terno alinhado, sapatos limpos, um homem bonito e elegante. Tinha modos refinados e dava sinais de que a espera poderia valer à pena.


Dali de onde eu estava via com clareza seus movimentos e tive vontade de me aproximar. Mas temendo pelo impacto que causaria meu rosto, vacilei e desisti. Desisti, mas continuei te olhando de longe.


Já passava das dez quando decidi finalmente ligar para você. Vi a luz do seu telefone se acender e você se assustar ao ver meu número no visor. Pegou o aparelho rapidamente e sorriu ao dizer “alô”. Suas pernas estavam cruzadas e seu pé balançava no ar. Você parecia um namoradinho adolesceste enquanto falava comigo. Justifiquei minha ausência com uma notícia trágica e vi seu rosto entristecer ao aceitar minhas desculpas. De onde estava percebi que estava mais liberto depois do telefonema, pediu mais uma bebida ao garçom e passou a vasculhar a agenda telefônica. Certamente ligaria para um amigo ou amiga e combinaria de encontrar-se em algum lugar.
Nesse momento resolvi me dirigir até onde estava e menti de novo: “Marquei com uma amiga e não há mais mesas vagas, será que poderia espera-la aqui por alguns minutos?”. Você foi solicito e cavalheiro. Levantou para cumprimentar-me e me ofereceu uma bebida. Falamos de nossas vidas, de nosso trabalho, de nossa família, e bebemos muito. Ríamos o riso fácil dos embriagados e quase falamos de nossos amores, mas interrompi para ir ao banheiro. Lá dentro meu celular tocou e era você. Senti meu coração apertar e não atendi. Não sabia ao certo quem seria eu ao falar com você.


Demorei-me, me detive pensativa analisando o quanto estaria errando ao engana-lo. Resolvi então que lhe diria a verdade.

Quando voltei à mesa você já não estava mais....apenas a rosa vermelha e um curto bilhete num guardanapo: “Desde o inicio percebi tudo. Gostei mais da real do que da virtual. Você tem meu telefone. Com amor: Carlos Alberto”...

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Mensagem surpresa - carta - Ana Maria



Hoje me surpreendi com uma carta sua. Quando vi o subscrito confesso que senti o mesmo torpor que sentia antes quando recebia suas correspondências.

Meus dedos vacilaram diante de seu nome, e meu corpo me empurrou para dentro do texto.

Poucas palavras havia nela. Um sorriso espalhado pelo papel, como sempre houve. E uma frase, apenas uma. “Onde você está?”

Me deu uma louca vontade de escrever “Estou aqui onde sempre estive. Nunca saí daqui com medo de que você não me encontrasse mais”. E tive vontade de dizer outras tantas coisas que estavam por dizer desses anos todos que nos ausentamos de nós. Dizer que perdi o contato mas que tinha armazenado todas as mensagens que voltaram, e que agora as anexaria. Dizer da importância de sua existência, e dizer que quase enlouqueci enquanto esperava esta sua mensagem.

Mas não podia te encharcar de acontecimentos num retorno tão breve. Então respondi apenas: “estou te amando como sempre te amei, mas agora com saudade”, e anexei meu telefone.

Foi há 3 horas, e já estou ansiosa pela resposta...

Sinto sua falta - carta - Ana Maria


Eram tão intensos nossos momentos!

Começavam na expectativa de nosso encontro, nos telefonemas que trocávamos, e na ansiosa espera pelo momento de te ver.

Um turbilhão de sensações me entorpecia e num quase estado letárgico me deixava levar até você.

Diante dos seus magnéticos olhos não relutava, apenas me entregava aos sabores exóticos dos beijos que seus lábios me davam.

Abraços musculosos que me prendiam junto do seu corpo, e asseguravam que não nos separaríamos.

Palavras doces eram ditas, frases delicadas e apaixonadas, como num conto de fadas.
Muito riso, muito afago....pouco tempo.

Não havia mentiras entre nós, nem disfarces, apenas desejo. Apenas um querer descompromissado e forte que nos fazia refém um do outro. Deliciosamente reféns...
Acreditavamos que apenas o tempo poderia nos abater...

Ainda hoje depois de tanto tempo sinto sua presença, seu perfume, ouço sua voz.
Sinto sua falta.
Sinto saudade.

Até hoje vivo de nossas lembranças ... intensas lembranças.