quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Sopro - Ana Maria


Teu sopro ao sussurrar-me
Envereda pelas entranhas
Cruza meu corpo
Num crispar ligeiro
Desperta-me
Alerta-me inteira
Faz-me em pedaços
Descompassa o peito
Minguam meus gestos
Provoca suspiros
Teu sopro tão tênue
Ingênuo martírio

Vem, sussurra teu nome
Me põe num abraço
Tortura minha boca
Partindo-me em mil
Martírio indolente
Aragem mística
Vento brisante

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Tropeços - Ana Maria



Lapidando sombras
Em caminhos
obtusos
Desvendando senhas
Segredos
Revelando sonhos
de noites
escusas
Rebelando sentidos
Doces amores
que escaparam
de mim...

Adeus! - Ana Maria


Permaneces
intacto
apesar de tudo
Vi passar
o tempo
e tua falta
mantivestes em mim
Lutei para
desguardar-me
de sua lembrança
Voei por outros
Sonhos estranhos
Desnudei-me
Desfiz-me
E voltei
para certificar-me
de que
sua ausência
está presente
em mim...

Erotismo - Ana Maria


Anônimos gestos
Preces hereges
Formas turvas e
Desejos confessos
Segredos latentes
Em noites lilases
Sem lógica do tempo.
Bocas lascivas
Avesso de nós.
Mãos imprecisas
Embaixo de nós.

Proposta indecente - Ana Maria



Beija-me
com a urgência
de sua fúria
Afasta-me
de mim para fazer-me
sua
Plena de amor.
Desgoverna-me.

Entrego-me
à sua descoberta
Desvenda
os caminhos
do meu corpo
Inventa pudores
que me detenham
Inaugura
seus rumos
Inebria-me
de perfume
Faça brotar
flores
Seixos
no sal áspero
Dizer palavras
não ditas
Imprimir
marcas na sua pele

Sustenta-me
no seu corpo
Deixa-me deslizar
no seu suor
Ao teu sabor
Ao teu calor
Cala
minha boca
na tua
Cola
seus lábios
nos meus
Que entrego
minhas esperas
Ancoro
meu corpo no seu...

Rompimento...- Ana Maria



Saímos incólumes
de nós mesmos
Desde que habitamos
nossos corpos
Que nos misturamos
aos nossos sabores
Que nos umedecemos
de nossos amores

Saímos ilesos,
um do outro
Desde que nossas bocas
apaixonaram-se
Que nossas mãos
ataram-se a passear juntas
Que nos fechamos na alcova
sem culpas

Recuperando-me... - Ana Maria




E como
a folha lida,
abandonada
eu fui
Descartada
do tempo,
esquivada
da vida.

Outros olhos
os seus miravam
Enquanto
os meus
Choravam amiúde
O passado
que guardavam.


Não volte
Não volte
Este coração
Que já esteve
apaixonado
Se recupera
Lentamente
De estar
Desamparado...
Não volte
.

Permita-se! - Ana Maria


Tua
calma é
meu abrigo.
Teu
delírio
meu anseio.
Teus dentes
em mordidas
frementes
sangrando
minha carne
meu desejo.
Não conspire
contra esse
peito que de
sobressaltos
arrítmicos
está cansado.
Permita-se!

Quero o seu
cansaço
Seu laço branco.
Quero seus
pedaços
Ondas
de seu flanco.
Seu eco.
Seu silêncio.

Para ser sua - Ana Maria




Risquei de unhas
suas costas
Sangrei meu destino
no seu
Rompi templos
Seitas
Abri entranhas
Destilei veneno
Desabei em lágrimas
Na sua boca
Resistimos às
tempestades
De estrelas cadentes
Nos perdemos
nas trevas

Atei meus olhos
Minhas mãos
Acorrentei-me em você
Rompi laços antigos
Abri meu peito
Para ser sua

Inteiramente sua...


Paixão adolescente - Ana Maria


Fico aqui a observar
seu rosto
Na ingenuidade apaixonada
da adolescência
O deleite de poder te olhar
apenas
Arremesso-me mil vezes
em sua direção
E, estancada permaneço
a te olhar apenas...


Tímida,
detenho meu sorriso
Com medo
que goste de mim
Descolo-me
e fico de longe
A te olhar os detalhes.


Seu riso frágil
e brando
Seu olhar morno
e acalantador.
Cada poro seu me apaixona...

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Delírio - Ana Maria


Indecentes suspiros

Rugem ofegantes

De minha pele eriçada

Fragmentos de amor vadio

Açoitada pela boca fremente

Impregnada de tua saliva

Abandono-me aos teus

Sentidos

Incendeia-me o ventre

Arrebata-me

Reiventa-me.

Tua boca adormecida - Ana Maria


Minha boca
quer a tua,
mas a tua descansa.
Observo a forma
Um beijo desejo
Mas ela repousa.
Ingênua e pura,
tua boca de fogo
Carnuda
e nua
m’afugenta
Quando
distraída movimenta...

Tua boca
m’assusta
m’enlouquece,
m’aguça.
Mesmo quando
dorme
ela me
afronta
m’excita,
e amedronta...

Do que preciso...- Ana Maria



Preciso do pungente laço
que me prende
De sua fúria noturna
que me inunda
Sua força em brasa ardente
que me domina
Ser agraciada
com seu rugido prazeroso

Seu óbvio calor ofegante
que me rende
Preciso de você inteiro
sem medo
Transbordando meus olhos,
meu colo
Habitando meu corpo,
meu deserto,
meu covo