Marcas deixadas na estrada de terra batida;
Rodas de aro de ferro fundido
E as ferraduras de Frida fincadas no chão.
No ar a neblina cai destemida
No rosto de Vini o semblante atrevido
E o envelope branco apertado na mão.
Levando amor naquela missiva
Que Vini nutre pela plebéia
Moça de exóticos traços morenos
Olhos calados lábios serenos
Ele, nobre senhor da Galiléia
Ela, rainha do povo, uma diva.
O moço, suando na noite fria
Ordenando “mais rápido”, ao cocheiro
Peito arfando de agonia
Lábios serrados, contraídos
Coração em chamas feito um braseiro
Afetado pela paixão, pela alquimia.
Ela no catre de seu casebre
Suave aparência de mulher amada
Intensos pensamentos majestosos
E lânguido olhar apaixonado
Tudo parece deixa-la entorpecida.
Eis que de repente rompe-se o silêncio
Ouve-se lá longe o relinchar de Frida
Num ímpeto levanta-se a morena atenta
Deve estar chegando seu amado
À porta do casebre Frida estanca
Ouve-se o ranger seco das rodas ao frear
Vini aflito um clamor do peito arranca
À mão, a missiva que ele mesmo fez questão de entregar
No texto uma promessa de amor
Nos olhos um convite
Dos lábios ouve-se o nome de Eleonor
A rainha plebéia, surge no limiar da porta
Seu vestido se sacode com a brisa fria
De olhos úmidos, indecisos, com cautela
Eleonor, bela, ali parada, o inebria
Ele, Vini, sentindo-se arder como em febre
Estende-lhe a mão com a carta nela
Tomando, dela, a mão gelada
Declara encantado, amor à donzela
Ela, trêmula, se aproxima mais
Da boca de Vini que alí tão perto
Não tendo fronteira,
promete que em breve será seu cais.
Assim se deu o difícil romance
De Vini, Senhor da Galiléia
Com Eleonor, rainha plebéia
Repleto de jogo de olhar, cena escusa
Ele, para ela um rei
Ela, para ele, musa.