segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Namoro virtual - carta - Ana Maria


Copo na mão e pensamento absorto. Lá estava você num canto do balcão, calado, sozinho à espera de alguém. Preocupado com a aparência, vez ou outra ajeitava o paletó, os cabelos. Às vezes olhava para trás para certificar-se que sua companhia não chegara. Sobre o balcão o celular calado, e uma rosa vermelha cansada de esperar. Observei atenta seu rosto moreno, cabelos com gel penteados para trás, terno alinhado, sapatos limpos, um homem bonito e elegante. Tinha modos refinados e dava sinais de que a espera poderia valer à pena.


Dali de onde eu estava via com clareza seus movimentos e tive vontade de me aproximar. Mas temendo pelo impacto que causaria meu rosto, vacilei e desisti. Desisti, mas continuei te olhando de longe.


Já passava das dez quando decidi finalmente ligar para você. Vi a luz do seu telefone se acender e você se assustar ao ver meu número no visor. Pegou o aparelho rapidamente e sorriu ao dizer “alô”. Suas pernas estavam cruzadas e seu pé balançava no ar. Você parecia um namoradinho adolesceste enquanto falava comigo. Justifiquei minha ausência com uma notícia trágica e vi seu rosto entristecer ao aceitar minhas desculpas. De onde estava percebi que estava mais liberto depois do telefonema, pediu mais uma bebida ao garçom e passou a vasculhar a agenda telefônica. Certamente ligaria para um amigo ou amiga e combinaria de encontrar-se em algum lugar.
Nesse momento resolvi me dirigir até onde estava e menti de novo: “Marquei com uma amiga e não há mais mesas vagas, será que poderia espera-la aqui por alguns minutos?”. Você foi solicito e cavalheiro. Levantou para cumprimentar-me e me ofereceu uma bebida. Falamos de nossas vidas, de nosso trabalho, de nossa família, e bebemos muito. Ríamos o riso fácil dos embriagados e quase falamos de nossos amores, mas interrompi para ir ao banheiro. Lá dentro meu celular tocou e era você. Senti meu coração apertar e não atendi. Não sabia ao certo quem seria eu ao falar com você.


Demorei-me, me detive pensativa analisando o quanto estaria errando ao engana-lo. Resolvi então que lhe diria a verdade.

Quando voltei à mesa você já não estava mais....apenas a rosa vermelha e um curto bilhete num guardanapo: “Desde o inicio percebi tudo. Gostei mais da real do que da virtual. Você tem meu telefone. Com amor: Carlos Alberto”...

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