sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Sonho - Ana Maria


Riso ciciante
que empunhas
Cercando-me
Algemando-me
com encantos
Transbordando
de silêncio
minh’alma
inocente

Azulastes
meus olhos
foscos
Desconstruístes-me
Tragastes
de meu ar
Revelastes
segredos
Entornastes
ondas
Confessastes, meu
Ficastes
em mim...

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Tatuagem - Chico Buarque


Quero ficar no teu corpo feito tatuagem
Que é pra te dar coragem
Pra seguir viagem
Quando a noite vem
E também pra me perpetuar em tua escrava
Que você pega, esfrega, nega
Mas não lava

Quero brincar no teu corpo feito bailarina
Que logo se alucina
Salta e te ilumina
Quando a noite vem

E nos músculos exaustos do teu braço
Repousar frouxa, murcha, farta
Morta de cansaço

Quero pesar feito cruz nas tuas costas
Que te retalha em postas
Mas no fundo gostas
Quando a noite vem


Quero ser a cicatriz risonha e corrosiva
Marcada a frio, e ferro e fogo
Em carne viva

Corações de mãe
Arpões, sereias e serpentes
Que te rabiscam o corpo todo
Mas não sentes

Tarde demais... - Ana Maria

Tarde demais..
Para
conhecer alguém
tão especial
como você.
Tarde demais
para se fazer
planos.
Tarde demais
para se fazer ninho...

Não,
não deve ser ...
Não deve ser
tarde demais para
fazer sonhos...
Não é tarde para
sentir
Nem para se
emocionar.
Não,
não é tarde para
querer.
Nem para ouvir.
Não,
nem para
desejar
Nem para
ofegar...
Muito menos para
viver...

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Amor a primeira vista - carta - Ana Maria


Impressionante foi aquele momento! Bastou meus olhos depararem com você e eles congelaram na imagem. Havia tanta gente naquela festa e apenas você me despertou a atenção.



De longe admirava seus gestos, suas mãos que falavam tanto quanto sua boca. Tive vontade de ouvi-las, as mãos e a boca. As mulheres te cercavam e eu à distancia me sentia bem perto. Não saberia te dizer ha quanto tempo já o observava, nem saberia como parar de fazê-lo.




Até que um certo descuido fez com que você me visse te olhando. Vi nos seus lábios um convencido sorriso branco. Depois voltou-se para suas amigas e seus gestos pareciam ainda mais vigorosos. Não por muito tempo. Sua curiosidade o fez voltar-se para meu olhar novamente, e de novo me mostrou seu melhor sorriso, mais amplo, mais aberto, mais completo. Meu coração se envaideceu e pulou de alegria. Meus olhos insistentes não estavam satisfeitos, pediam para ver os seus bem de perto.




Outra vez você me olhou, agora mais atento ao meu interesse, mais completo. Vi você se distanciando de sua turma e se aproximando de mim, sempre sorrindo. Havia um ar de timidez que você explorava com sedução. Agarrei-me ao balcão mais próximo e esperei. Seu corpo em movimento contínuo cada vez mais perto, me apaixonava. Ha uma pequena distânicia conseguia ver seus olhos olhando para os meus. Conversavam já um assunto íntimo, antes de nos falarmos.




Espreitei cada movimento, até poder notar seus lábios umidos se apertarem antes de dizer-me seu nome. Não me lembro de ter dito o meu, mas sua voz ficou impregnada em mim. O toque de sua mão ao me cumprimentar me fez corar. Naquele momento tive certeza de você era o homem da minha vida. Não sei mais nada daquela festa. Me lembro vagamente dos anfitriões. Nunca me esqueci sua atitude gentil em me levar para casa, embora soubesse que essa gentileza era para poder ficar comigo à sós, fiz de conta que não percebi nada pois também era a minha intenção.


O nosso primeiro encontro. Um encontro para sempre.




segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Amor adolescente - carta - Ana Maria


Era sempre verão aos vinte anos. Todos os dias pareciam ser ensolarados e todos os corações apaixonados. Naquela época não sabia escrever cartas de amor senão as faria aos baldes.

Havia um par de olhos que me engolia todos os dias no caminho para a faculdade e eu não me esquivava deles. Fitava-os quando ia e depois quando voltava. Parado à porta do café você me acompanhava com o olhar malicioso até a porta da escola. Era tão presente que até me sentia segura nessa trajetória. Nunca me dirigiu a palavra, nem me seguiu, apenas olhava.

Um dia resolvi sorrir-lhe e um riso tímido saiu de mim, e você o acolheu discretamente num outro tímido sorriso. Daí por diante todos os dias trocávamos esse riso pequeno mas que era imenso dentro de mim.

Até que lhe disse “oi” e você respondeu além de acenar para mim. Fiquei tão entusiasmada que passei a escrever bilhetes que não enviava. O ano acabou e vieram as férias. Sofri sua ausência nesse período mas tinha esperança de vê-lo de novo quando as aulas retomassem. Queria passar pelo café e deixar-lhe uma carta mas não tinha intimidade com as letras. E a quem destinatária tal carta?

Em março quando voltei às aulas vesti minha melhor roupa para vê-lo à porta, mas não o vi e fiquei aflita. Caminhei até a faculdade me sentindo sem chão. Como andar sem seu olhar a me seguir? Senti remorso por não ter parado e perguntado de você. Meu trajeto foi angustiante nesse dia. Mas quando cheguei à faculdade lá estava você à minha espera. Livros à mão, sorriso nos lábios, e brilho no olhar. Senti meu coração se encher de alívio. Agora estaríamos juntos pelo ano inteiro...

Namoro virtual - carta - Ana Maria


Copo na mão e pensamento absorto. Lá estava você num canto do balcão, calado, sozinho à espera de alguém. Preocupado com a aparência, vez ou outra ajeitava o paletó, os cabelos. Às vezes olhava para trás para certificar-se que sua companhia não chegara. Sobre o balcão o celular calado, e uma rosa vermelha cansada de esperar. Observei atenta seu rosto moreno, cabelos com gel penteados para trás, terno alinhado, sapatos limpos, um homem bonito e elegante. Tinha modos refinados e dava sinais de que a espera poderia valer à pena.


Dali de onde eu estava via com clareza seus movimentos e tive vontade de me aproximar. Mas temendo pelo impacto que causaria meu rosto, vacilei e desisti. Desisti, mas continuei te olhando de longe.


Já passava das dez quando decidi finalmente ligar para você. Vi a luz do seu telefone se acender e você se assustar ao ver meu número no visor. Pegou o aparelho rapidamente e sorriu ao dizer “alô”. Suas pernas estavam cruzadas e seu pé balançava no ar. Você parecia um namoradinho adolesceste enquanto falava comigo. Justifiquei minha ausência com uma notícia trágica e vi seu rosto entristecer ao aceitar minhas desculpas. De onde estava percebi que estava mais liberto depois do telefonema, pediu mais uma bebida ao garçom e passou a vasculhar a agenda telefônica. Certamente ligaria para um amigo ou amiga e combinaria de encontrar-se em algum lugar.
Nesse momento resolvi me dirigir até onde estava e menti de novo: “Marquei com uma amiga e não há mais mesas vagas, será que poderia espera-la aqui por alguns minutos?”. Você foi solicito e cavalheiro. Levantou para cumprimentar-me e me ofereceu uma bebida. Falamos de nossas vidas, de nosso trabalho, de nossa família, e bebemos muito. Ríamos o riso fácil dos embriagados e quase falamos de nossos amores, mas interrompi para ir ao banheiro. Lá dentro meu celular tocou e era você. Senti meu coração apertar e não atendi. Não sabia ao certo quem seria eu ao falar com você.


Demorei-me, me detive pensativa analisando o quanto estaria errando ao engana-lo. Resolvi então que lhe diria a verdade.

Quando voltei à mesa você já não estava mais....apenas a rosa vermelha e um curto bilhete num guardanapo: “Desde o inicio percebi tudo. Gostei mais da real do que da virtual. Você tem meu telefone. Com amor: Carlos Alberto”...

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Mensagem surpresa - carta - Ana Maria



Hoje me surpreendi com uma carta sua. Quando vi o subscrito confesso que senti o mesmo torpor que sentia antes quando recebia suas correspondências.

Meus dedos vacilaram diante de seu nome, e meu corpo me empurrou para dentro do texto.

Poucas palavras havia nela. Um sorriso espalhado pelo papel, como sempre houve. E uma frase, apenas uma. “Onde você está?”

Me deu uma louca vontade de escrever “Estou aqui onde sempre estive. Nunca saí daqui com medo de que você não me encontrasse mais”. E tive vontade de dizer outras tantas coisas que estavam por dizer desses anos todos que nos ausentamos de nós. Dizer que perdi o contato mas que tinha armazenado todas as mensagens que voltaram, e que agora as anexaria. Dizer da importância de sua existência, e dizer que quase enlouqueci enquanto esperava esta sua mensagem.

Mas não podia te encharcar de acontecimentos num retorno tão breve. Então respondi apenas: “estou te amando como sempre te amei, mas agora com saudade”, e anexei meu telefone.

Foi há 3 horas, e já estou ansiosa pela resposta...

Sinto sua falta - carta - Ana Maria


Eram tão intensos nossos momentos!

Começavam na expectativa de nosso encontro, nos telefonemas que trocávamos, e na ansiosa espera pelo momento de te ver.

Um turbilhão de sensações me entorpecia e num quase estado letárgico me deixava levar até você.

Diante dos seus magnéticos olhos não relutava, apenas me entregava aos sabores exóticos dos beijos que seus lábios me davam.

Abraços musculosos que me prendiam junto do seu corpo, e asseguravam que não nos separaríamos.

Palavras doces eram ditas, frases delicadas e apaixonadas, como num conto de fadas.
Muito riso, muito afago....pouco tempo.

Não havia mentiras entre nós, nem disfarces, apenas desejo. Apenas um querer descompromissado e forte que nos fazia refém um do outro. Deliciosamente reféns...
Acreditavamos que apenas o tempo poderia nos abater...

Ainda hoje depois de tanto tempo sinto sua presença, seu perfume, ouço sua voz.
Sinto sua falta.
Sinto saudade.

Até hoje vivo de nossas lembranças ... intensas lembranças.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Primeira vez que vi você - carta - Ana Maria


Não pude dormir aquela noite. Meu coração parecia exposto com excesso de ar dentro dele. Minhas pernas preguiçosas não obedeciam. Meus pensamentos teimavam em você.

Há tempos que me inquietava sua imagem desconhecida. Há tempos suas palavras me tocavam fundo e me enfraqueciam ao contradize-las. Há muito me engrandeciam suas
falas carinhosas e tantos elogios doces. Não consegui mais esquivar-me de você, ao contrário, te procurava ansiosa.

Tantos acontecimentos para guardar na memória...Tantas declarações tão fortes. Mas tem uma, entre tantas, imagem que ficou nítida como se ela se repetisse quando fico sozinha comigo mesma: Você chegando, timidamente, com um buquê de flores mistas nas mãos...Tinha um sorriso inseguro e gestos certeiros...E um beijo inesquecível!

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Cartas Trocadas - cartas - Ana Maria




Organizando velhos papeis deparei-me com um calhamaço de cartas com envelopes iguais.


Eram as suas cartas. Todas elas estavam ali me dizendo o que fomos um para o outro.


Fiquei surpresa de ver que eu ainda titubeava diante de suas palavras. Mesmo que elas estivessem dobradas numa folha de papel amarelecido pelo tempo.
Um pedaço da minha história estava ali guardado dentro de tantos envelopes. Foi assim que ficou nosso amor, fechado em cartas que escrevemos, e que às vezes nem enviamos.

Abri uma delas para me certificar de que o passado não me afetaria. Mas qual o que? Você estava lá me dizendo que minha voz te inebriava. Que meus passos mansos causavam ciúme em você. Que minha boca deveria calar para o mundo e falar apenas para você. Que seus sonhos eram todos com nós dois. Me lembro do que senti quando li esta carta e tive medo de ser eternamente prisioneira do seu coração. Talvez nesse momento nosso relacionamento tenha começado a perder o perfume...

E hoje estou aqui depois de tantos anos me torturando com a dúvida: Será que teríamos sido felizes se continuássemos?

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Revelação - Ana Maria



Os livros me dominavam, me enchiam as manhãs, me ocupavam as tardes e me insoniavam à noite. Era assim que vivia antes de sentir seu perfume. Minha vida era dedicada aos meus conhecimentos apenas. Eu não sabia que o que eu mais precisava conhecer, o sentimento mais nobre e mais forte que eu carregaria pelo resto de minha vida, não estava nos livros que eu folheava atenta. Não estava nos bancos das escolas, nem documentos que eu redigia com tanto prazer.

O resto de minha vida estava marcado com sua chegada. Flores nas mãos, sorriso encabulado, e luz no olhar. Era essa a imagem que ficaria para sempre comigo.

Carícias - Ana Maria


Isso, afaga meus olhos com os seus. Banha o meu olhar com seu sorriso. Diga palavras azuis com sons cor-de-rosa. Segura minha mão, aprisiona meu corpo no seu. E permita que sua respiração ofegue...
Ana Maria Maruggi

Um final de tarde especial - Ana Maria



Caminhávamos de mãos dadas pela rua molhada. Desafiávamos os passantes com nossos risos descomprometidos, com nossos abraços recheados de ternura. Ninguém naquele momento parecia amar alguém mais do que nós nos amávamos. Lembra disso? Lembra como seus olhos se perdiam nos meus enquanto falava do nosso futuro? Sua boca irrequieta se apressava em me prometer uma vida de amor e paixão. Lembra? Chovia a cântaros naquele final de tarde, e aquele foi o cenário que escolhemos para viver momento tão especial.


Sua mão apertava a minha. Sua voz estava trêmula. Um calor inexplicável andava pelo meu corpo. E as palavras não escolhidas chegavam lentamente aos meus ouvidos. Era a mais linda declaração de amor que uma mulher poderia ouvir!


A chuva estancou. Os ruídos cessaram, e apenas sua voz existia naquele instante. Um momento mágico. Uns riscos de água escorriam dos seus cabelos mas as palavras ainda chegavam ...lentas e mágicas...traduziam o amor que você sentia por mim, prometiam felicidade e paixão... lentas e mágicas palavras de amor...

Inesquecível final de tarde ...

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Ternas provocações - Ana Maria


Era o vento que brincava de espalhar seus cabelos no momento em que nossas bocas se beijavam na praia.
Era de novo o vento que, deliciosamente, balançava sua blusa branca mostrando de leve suas formas sob ela, me provocando.
E outra vez o vento sacudia sua saia tornando-a menina divertida diante do incontrolável.
Deslumbrado, até do vento tenho ciúme. Ele que te toca de maneira assintosa, te alegra, te refresca, te insinua. Queria ter o poder do vento para rodopiar no seu corpo e faze-la rir diante do meu deslumbramento. Jogar com seus cabelos, espalha-los, desnorteá-los. Bulir com suas roupas e invadir o que elas escondem.

E depois sair ileso tendo provocado em você emoções e sensações repentinas e incontroláveis.


domingo, 21 de outubro de 2007

Neruda falando sempre de amor






É assim que te quero, amor,

assim, amor, é que eu gosto de ti,

tal como te vestes

e como arranjasos cabelos

e comoa tua boca sorri,

ágil como a água

da fonte sobre as pedras puras,

é assim que te quero, amada,

Ao pão não peço que me ensine,

mas antes que não me falte

em cada dia que passa.

Da luz nada sei, nem donde

vem nem para onde vai,

apenas quero que a luz alumie,

e também não peço à noite explicações,

espero-a e envolve-me,

e assim tu pão e luz

e sombra és.

Chegastes à minha vida

com o que trazias,

feita

de luz e pão e sombra,

eu te esperava,

e é assim que preciso de ti,

assim que te amo,

e os que amanhã quiserem ouvir

o que não lhes direi, que o leiam aqui

e retrocedam hoje porque é cedo

para tais argumentos.

Amanhã dar-lhes-emos apenas

uma folha da árvore do nosso amor, uma folha

que há-de cair sobre a terra

como se a tivessem produzido os nosso lábios,

como um beijo caído

das nossas alturas invencíveis

para mostrar o fogo e a ternura

de um amor verdadeiro.


Pablo Neruda




Os teus pés


Quando não te posso contemplar

Contemplo os teus pés.


Teus pés de osso arqueado,

Teus pequenos pés duros,


Eu sei que te sustentam

E que teu doce peso

Sobre eles se ergue.


Tua cintura e teus seios,

A duplicada purpura

Dos teus mamilos,

A caixa dos teus olhos

Que há pouco levantaram voo,

A larga boca de fruta,

Tua rubra cabeleira,

Pequena torre minha.


Mas se amo os teus pés

É só porque andaram

Sobre a terra e sobre

O vento e sobre a água,

Até me encontrarem.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Paixão revelada - ANA MARIA



Impressionava-me o sentimento que de repente crescia em mim.

O que antes me parecia ser uma amizade comum agora se transformava num mar de paixão.
Como nunca havia percebido que você seria o homem da minha vida?
E pensar que tantas vezes deixava de lhe dar atenção devida, tantas vezes ignorava seus telefonemas, imaginava que seus bilhetes eram brincadeiras sem nexo. Tantos sinais, e eu não decifrava nenhum deles.
Que tola eu fui! Quase o perdi com o desdém que tinha sempre preparado para você.
Até que naquele dia uma mensagem sobre minha mesa me convidava para almoçar. Era anônimo o convite. Compareci ao endereço para satisfazer minha curiosidade, e lá estava você. Desta vez o enxerguei diferente, parecia até outra pessoa. Seus olhos me encararam inocentes e cativantes. Sentei-me ao seu lado e nesse momento lamentei ter perdido tanto tempo me esquivando de você.
Era o primeiro dia do resto de nossas vidas...



quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Olavo Bilac



Soneto 1

Talvez sonhasse, quando a vi. Mas via
Que, aos raios do luar iluminada
Entre as estrelas trêmulas subia
Uma infinita e cintilante escada.

E eu olhava-a de baixo, olhava-a...
Em cadaDegrau, que o ouro mais límpido vestia,
Mudo e sereno, um anjo a harpa doirada,
Ressoante de súplicas, feria...

Tu, mãe sagrada! vós também, formosas
Ilusões! sonhos meus! íeis por ela
Como um bando de sombras vaporosas.

E, ó meu amor! eu te buscava, quando
Vi que no alto surgias, calma e bela,
O olhar celeste para o meu baixando...




Olavo Bilac

Artur Azevedo - Musa Infeliz


Musa Infeliz

Todo o cuidado nestas rimas ponho;
Musa, peço-te, pois, que me remetas
Versos que tenham rútilas facetas,
E não revelem trovador bisonho.
Meia noite bateu. Sai risonho...
Brilhava - oh, musa, não me comprometas! -
O mais belo de todos os planetas
N'um céu que parecia um céu de sonho.
O mais belo de todos os prazeres
Gozei, à doce luz dos olhos pretos
Da mais bela de todas as mulheres!
Pobres quartetos! míseros tercetos!...
Musa, musa infeliz, dar-me não queres.
O mais belo de todos os sonetos!...

Artur Azevedo

Luis de Camões - Quem diz que Amor é falso ou enganoso...



Quem diz que Amor é falso ou enganoso,

Ligeiro, ingrato, vão desconhecido,

Sem falta lhe terá bem merecido

Que lhe seja cruel ou rigoroso.
Amor é brando, é doce, e é piedoso.
Quem o contrário diz não seja crido;
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens, e inda aos Deuses, odioso.
Se males faz Amor em mim se vêem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.
Mas todas suas iras são de Amor;
Todos os seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria.

Fernando Pessoa - Teus olhos entristecem...


Teus olhos entristecem.

Nem ouves o que digo.

Dormem, sonham esquecem...

Não me ouves, e possigo.


Digo o que já, de triste,

Te disse tanta vez...

Creio que nunca o ouviste

De tão tua que és.


Olhas-me de repente

De um distante impreciso

Com um olhar ausente.

Começas um sorriso.


Continuo a falar,

Continuas ouvindo

O que estás a pensar,

Já quase não sorrindo.


Até que neste ocioso

Sumir da tarde fútil,

Se esfolha silencioso

O teu sorriso inútil.

Fernando Pessoa, 19-10-1935

Bodas e seus simbolos


E tudo isso para nos unirmos e para alcançarmos muitas bodas de relacionamento. Noites e dias enlaçados pelo nosso ardoroso sentimento como se cada dia fosse nosso último.


1 ano Bodas de Papel
2 anos Bodas de Algodão
3 anos Bodas de Trigo ou Couro
4 anos Bodas de Flores e Frutasou Cera
5 anos Bodas de Madeira ou Ferro
6 anos Bodas de Perfume ou Açúcar
7 anos Bodas de Latão ou Lã
8 anos Bodas de Papoula ou Barro
9 anos Bodas de Cerâmica ou Vime
10 anos Bodas de Estanho ou Zinco
11 anos Bodas de Aço
12 anos Bodas de Seda ou Ônix
13 anos Bodas de Linho ou Renda
14 anos Bodas de Marfim
15 anos Bodas de Cristal
16 anos Bodas de Safira ou Turmalina
17 anos Bodas de Rosa
18 anos Bodas de Turquesa
19 anos Bodas de Cretone ou Água Marinha
20 anos Bodas de Porcelana
21 anos Bodas de Zircão
22 anos Bodas de Louça
23 anos Bodas de Palha
24 anos Bodas de Opala
25 anos Bodas de Prata
26 anos Bodas de Alexandrita
27 anos Bodas de Crisopázio
28 anos Bodas de Hematita
29 anos Bodas de Erva
30 anos Bodas de Pérola
31 anos Bodas de Nácar
32 anos Bodas de Pinho
33 anos Bodas de Crizo
34 anos Bodas de Oliveira
35 anos Bodas de Coral
36 anos Bodas de Cedro
37 anos Bodas de Aventurina
38 anos Bodas de Carvalho
39 anos Bodas de Mármore
40 anos Bodas de Rubi ou Esmeralda
41 anos Bodas de Seda
42 anos Bodas de Prata Dourada
43 anos Bodas de Azeriche
44 anos Bodas de Carbonato
45 anos Bodas de Platina ou Safira
46 anos Bodas de Alabastro
47 anos Bodas de Jaspe
48 anos Bodas de Granito
49 anos Bodas de Heliotrópio
50 anos Bodas de Ouro
51 anos Bodas de Bronze
52 anos Bodas de Argila
53 anos Bodas de Antimônio
54 anos Bodas de Níquel
55 anos Bodas de Ametista
56 anos Bodas de Malaquita
57 anos Bodas de Lápis Lazuli
58 anos Bodas de Vidro
59 anos Bodas de Cereja
60 anos Bodas de Diamante ou Jade
61 anos Bodas de Cobre
62 anos Bodas de Telurita
63 anos Bodas de Sândalo
64 anos Bodas de Fabulita
65 anos Bodas de Ferro ou Safira
66 anos Bodas de Ébano
67 anos Bodas de Neve
68 anos Bodas de Chumbo
69 anos Bodas de Mercúrio
70 anos Bodas de Vinho
75 anos Bodas de Brilhante ou Alabastro
80 anos Bodas de Nogueira ou Carvalho

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Chegaste em minha vida!



Chegaste como a brisa que sopra em noite de calor.
Deslumbrante visão para meus olhos inocentes.
Teu perfume se espalhou com o vento e te trancou em mim.
Chegaste como a flor que desabrocha em silencio na noite escura provocando olhares de surpresa na manhã seguinte.
Chegaste como chega a onda do oceano que avança espumante na areia fina.
Vieste com o glamour de uma adolescente em “debut”.
Provocaste os curiosos e os “dom juans” quando entraste.
Invadiste minh’alma sem piedade e sem pudores.
Ousada, posaste para meus olhos no alto da escada com vestido esvoaçante que te envolvia numa atmosfera misteriosa e sonhadora.
Fingiste o tempo todo. Fingiste não saber que o cenário que escolheste seria o túnel do tempo que me manteria preso para sempre.
Fingiste que não me via aprisionado ao teu corpo respirando ar que me oferecias.
Fingiste que que não me amava, mas não me libertavas de teus laços.
E eu apaixonada narradora de tua beleza, não procurava ser liberta.
Fingiste o tempo todo.
de minha autoria

Seu sorriso nos uniu - Ana Maria







O seu sorriso me motiva, me dá forças!




Quando nos conhecemos naquela velha estação de trens não podia imaginar o que viria depois.

Naquela tarde de outubro o vento soprava as copas das árvores que arcavam até o chão. O perfume das flores fazia os corações apaixonados sonharem. Era uma primavera de tantas outras. Saltei do trem e na plataforma estava você com olhar perdido para o infinito dos trilhos. Suas malas aborrecidas no chão pareciam não querer partir.

E permaneci ali à espera de minha conexão sem conseguir desviar os olhos de você.

Não, não era uma primavera como todas as outras.

Meu coração batia forte e sua silhueta ao sol parecia brilhar para mim. Sua camisa de tecido leve se movia intensamente ao vento e você nem notava. Alheio ao tempo sua boca parecia cantarolar alguma canção. Fiquei curiosa e me aproximei. Notei que seu pé batia no compasso da música que cantava.

De repente você me viu, e sorriu um sorriso que o tirou do mundo onde estava. Meu cabelo espalhado e desorganizado o fez rir. E sua voz me pedindo desculpa por ter achado engraçado meu cabelo assim tão “doidinho”. Jamais esquecerei esse dia. Sua mão estendida para mim ao mesmo tempo em que dizia: “Francisco, eu me chamo Francisco” , e você? Tudo parecia ter sido ensaiado para me impressionar. Para me fazer apaixonar por você. Cúmplices, o vento, o sol, a plataforma da velha estação, os ruídos dos apitos dos trens, a primavera, sua silhueta, sua voz, e principalmente seu sorriso.

Suas malas se amontoaram às minhas e ali permanecemos até anoitecer quando então desistimos de ir para onde íamos, e fomos juntos para uma cidade qualquer onde estamos até hoje com a família que formamos.

Daquele dia em diante meu coração nunca mais entrou na freqüência normal.

Seu sorriso me motiva, me dá forças, me faz feliz.

Lembrando nós dois - Ana Maria



Todas as vozes do mundo pareciam dizer seu nome em sussurros.

Que sentimento era aquele que arrebatava tudo, e todos os outros sentimentos?

Era amor de verdade, estava certa.

Um amor sem precedentes, sem medo e de muita ousadia.

Um sonho que eu sonhava acordada.

Imagens que me levavam para além de mim mesma.

Nunca me passou pela cabeça que um dia terminaria um relacionamento tão aglutinado.

Imaginei que seria eterno e isso me fortalecia.

Isso me deu forças para amparar-me quando tudo acabou.

Tenho dúvida se algum dia alguém viveu ou sentiu algo tão forte e dominador que guiasse todos os seus atos.

Duvido que outra pessoa tenha sido amada com tal imensidão e avidez como eu amei você.

Foi tudo tão grande e poderoso entre nós dois.

Tenho medo do que restou de mim depois tudo. Mas pondero.

Hoje me sinto leve, ou vazia, mas não sinto sua falta.

O que ficou foi uma recordação carregada de tudo entre nós.

O que restou foi uma mulher completa por ter amado mais do que a si mesma.

Obrigada, meu amor.
de minha autoria

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Era tudo tão imenso. Tudo tão forte! - Ana Maria


Imagem nítida sua face reluz diante dos meus olhos úmidos todas as noites.

Meus pensamentos vagueiam pelos contornos bem moldados do seu rosto jovem e estancam quase estatelados nos seus lábios carnudos.

Maldoso foi quando oferecia seus lábios para os meus beijarem, e desfrutava de uma entrega sem precedentes. Uma entrega tão verdadeira, e quase ingênua.

Maldoso também foi quando telefonava pela madrugada para me ouvir dizer o quanto o amava, e aproveitava para me enviar beijos macios que incendiavam meu peito.

Tão maldoso quando me inspirava a escrever inúmeras cartas, onde apaixonada registrava sentimentos que nunca, jamais, registrei antes.

Abriu seus braços acolhedores para que eu me atirasse neles, e assim o fiz sem cuidados, sem temores.

Liberou seus sonhos para que eu fizesse parte deles, e quase fui protagonista.
Rimos juntos. Choramos juntos. Rezamos juntos.

Parecia que nada poderia demolir o que estávamos construindo com nossa paixão.

Sentia-me tão invencível que não havia necessidade de estar em outro lugar que não fosse nos seus braços.

Era tudo tão imenso. Tudo tão forte! Uma relação regada de sentimentos tão verdadeiros e sinceros que fazíamos planos para nós dois.

Mas o tempo se encarregou de mostrar que vivíamos um maravilhoso momento de nossas vidas, apenas isso.

Sofri muito quando constatei que nossa relação se esvaia. Lutei ainda para tentar manter você comigo. Mas foi em vão.

Minhas noites desde então têm sido de lembranças, e lágrimas.

Ouço tantos me dizerem que em breve outra pessoa preencherá esse espaço vazio e serei feliz de novo. Mas não acredito nisso, não neste momento, pois não há nenhuma lacuna, nenhum espaço vago a ser preenchido. O espaço que existe está carregado de momentos, de saudade, de lembranças, e principalmente de amor, de um grande amor que não acabou e parece não querer acabar jamais.

Um grande amor não acaba... - Ana Maria

Um grande amor que não acabou e parece não querer acabar jamais...

Imagem nítida sua face reluz diante dos meus olhos úmidos todas as noites.

Meus pensamentos vagueiam pelos contornos bem moldados do seu rosto jovem e estancam quase estatelados nos seus lábios carnudos.

Maldoso foi quando oferecia seus lábios para os meus beijarem, e desfrutava de uma entrega sem precedentes. Uma entrega tão verdadeira, e quase ingênua.

Maldoso também foi quando telefonava pela madrugada para me ouvir dizer o quanto o amava, e aproveitava para me enviar beijos macios que incendiavam meu peito.

Tão maldoso quando me inspirava a escrever inúmeras cartas, onde apaixonada registrava sentimentos que nunca, jamais, registrei antes.

Abriu seus braços acolhedores para que eu me atirasse neles, e assim o fiz sem cuidados, sem temores.

Liberou seus sonhos para que eu fizesse parte deles, e quase fui protagonista.

Rimos juntos. Choramos juntos. Rezamos juntos.

Parecia que nada poderia demolir o que estávamos construindo com nossa paixão.

Sentia-me tão invencível que não havia necessidade de estar em outro lugar que não fosse nos seus braços.

Era tudo tão imenso. Tudo tão forte! Uma relação regada de sentimentos tão verdadeiros e sinceros que fazíamos planos para nós dois.

Mas o tempo se encarregou de mostrar que vivíamos um maravilhoso momento de nossas vidas, apenas isso.

Sofri muito quando constatei que nossa relação se esvaia. Lutei ainda para tentar manter você comigo. Mas foi em vão.

Minhas noites desde então têm sido de lembranças, e lágrimas.

Ouço tantos me dizerem que em breve outra pessoa preencherá esse espaço vazio e serei feliz de novo. Mas não acredito nisso, não neste momento, pois não há nenhuma lacuna, nenhum espaço vago a ser preenchido. O espaço que existe está carregado de momentos, de saudade, de lembranças, e principalmente de amor, de um grande amor que não acabou e parece não querer acabar jamais.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Álvares de Azevedo disse: Quero em teus lábios beber os amores do céu...




Amor



Amemos! Quero de amor

Viver no teu coração!

Sofrer e amar essa dor

Que desmaia de paixão!

Na tu'alma, em teus encantos

E na tua palidez

E nos teus ardentes prantos

Suspirar de languidez!



Quero em teus lábio beber

Os teus amores do céu,

Quero em teu seio morrer

No enlevo do seio teu!

Quero viver d'esperança,

Quero tremer e sentir!

Na tua cheirosa trança

Quero sonhar e dormir!



Vem, anjo, minha donzela,

Minha'alma, meu coração!

Que noite, que noite bela!

Como é doce a viração!

E entre os suspiros do vento

Da noite ao mole frescor,

Quero viver um momento,

Morrer contigo de amor!



Manoel Antonio Álvares de Azevedo


(São Paulo SP, 1831 - Rio de Janeiro RJ, 1852) Cursou Letras no Imperial Colégio de D. Pedro II, no Rio de Janeiro, e em 1848 matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo. Nos anos seguintes, redigiu os poemas do romance A Noite na Taverna, o drama Macário e ensaios literários sobre Bocage, George Sand e Musset. Em 1849, discursou na sessão acadêmica comemorativa do aniversário da criação dos cursos jurídicos no Brasil. Três anos depois faleceria, sem chegar a concluir a faculdade. Sua obra, que abrange também os poemas da Lira dos Vinte Anos e a prosa do Livro de Fra Gondicário, foi reunida e publicada em 1942. Álvares de Azevedo é um dos principais nomes da segunda geração do romantismo brasileiro. Seus poemas, impregnados do spleen de românticos como Byron e Musset, tratam principalmente da morte e do amor, este freqüentemente idealizado. Outro traço importante da poesia de Álvares de Azevedo, segundo o crítico Antônio Cândido, é "o gosto pelo prosaísmo e o humor, que formam a vertente para nós mais moderna do Romantismo".

Castro Alves disse: Tudo que me rodeia de ti fala...




Horas de Saudade



Tudo vem me lembrar que tu fugiste,

Tudo que me rodeia de ti fala.

Inda a almofada, em que pousaste a fronte

O teu perfume predileto exala



No piano saudoso, à tua espera,

Dormem sono de morte as harmonias.

E a valsa entreaberta mostra a frase

A doce frase qu'inda há pouco lias.



As horas passam longas, sonolentas...

Desce a tarde no carro vaporoso...

'Ave-Maria o sino, que soluça,

É por ti que soluça mais queixoso.



E não vens te sentar perto, bem perto

Nem derramas ao vento da tardinha,

A caçoula de notas rutilantes

Que tua alma entornava sobre a minha.



E, quando uma tristeza irresistível

Mais fundo cava-me um abismo n'alma,

Como a harpa de Davi teu riso santo

Meu acerbo sofrer já não acalma.



que tudo me lembra que fugiste.

Tudo que me rodeia de ti fala...

Como o cristal da essência do oriente

Mesmo vazio a sândalo trescala.



No ramo curvo o ninho abandonado

Relembra o pipilar do passarinho.

Foi-se a festa de amores e de afagos...

Eras — ave do céu... minh'alma — o ninho!



Por onde trilhas — um perfume expande-se

Há ritmo e cadência no teu passo!

És como a estrela, que transpondo as sombras,

Deixa um rastro de luz no azul do espaço...



E teu rastro de amor guarda minh'alma,

Estrela que fugiste aos meus anelos!

Que levaste-me a vida entrelaçada

Na sombra sideral de teus cabelos!...



Curralinho, 2 de abril de 1870.



Antonio Frederico de Castro Alves


Poeta brasileiro da última fase do romantismo (Muritiba, BA, 1847 - Salvador, 1871). Extremamente sensível às inspirações revolucionárias e liberais do séc. XIX, viveu com intensidade os grandes episódios históricos do seu tempo e foi, no Brasil, o anúncio da Abolição e da República; devotou-se apaixonadamente à causa abolicionista, o que lhe valeu a antonomásia de "Cantor dos escravos". Teve intensa vida sentimental, havendo desempenhado importante papel em sua lírica a ligação amorosa com a atriz Eugênia Câmara. Duas vertentes se distinguem em sua poesia: a feição social e humanitária, à Vitor Hugo, em que alcança momentos de fulgurante eloqüência épica; a feição lírico-amorosa, mesclada da sensualidade de um autêntico filho dos trópicos.




Neruda disse: Ámame esclava mía!




Esclava mía, témeme. Ámame. Esclava mía!


Esclava mía, témeme. Ámame. Esclava mía!

Soy contigo el ocaso más vasto de mi cielo,

y en él despunta mi alma como una estrella fría.

Cuando de ti se alejan vuelven a mí mis pasos.

Mi propio latigazo cae sobre mi vida.

Eres lo que está dentro de mí y está lejano.

Huyendo como un coro de nieblas perseguidas.

Junto a mí, pero dónde? Lejos, lo que está lejos.

Y lo que estando lejos bajo mis pies camina.

El eco de la voz más allá del silencio.

Y lo que en mi alma crece como el musgo en las ruinas.






Pablo Neruda


Pablo Neruda (Neftalí Ricardo Reyes Basoalto), foi um poeta chileno, um dos mais importantes poetas da língua castelhana do século XX, nascido em Parral (Chile) no dia 12 de Julho de 1904, Filho de José del Carmen Reyes Morales, operário ferroviário, e dona Rosa Basoalto Opazo, professora primária, morta quando Neruda tinha um mês de vida. Cônsul do Chile na Espanha (1934-1938) e no México, eleito senador em 1945, foi embaixador na França (1970). Suas poesias da primeira fase são inspiradas por uma angústia altamente romântica. Passou por uma fase surrealista. Tornou-se marxista e revolucionário, sendo, primeiramente, a voz angustiada da República Espanhola e, depois, das revoluções latino-americanas. Faleceu em Santiago (Chile) no dia 23 de Setembro de 1973.



Cecília Meireles disse: É preciso aprender a olhar...




A arte de ser feliz


Houve um tempo em que minha janela se abria

sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.

Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.

Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,

e o jardim parecia morto.

Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde,

e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as

plantas.

Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o

jardim não morresse.

E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água

que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente

feliz.

Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.

Outras vezes encontro nuvens espessas.

Avisto crianças que vão para a escola.

Pardais que pulam pelo muro.

Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.

Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.

Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Á

s vezes, um galo canta.

Às vezes, um avião passa.

Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.

E eu me sinto completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,

que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não

existem,

outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,

finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.




Cecília Meireles



Poetisa brasileira, nasceu no Rio de Janeiro em 7 de janeiro de 1901

Em 1910, concluiu o curso primário e, sete anos depois diplomou-se professora primária e passou a desenvolver intensa atividade como educadora. Estudou também línguas, canto, violino. Aos dezoitos anos lançou o livro de poemas Espectros, pelo qual recebeu elogios da crítica especializada. Em 1934 organizou a primeira biblioteca infantil do país. Em 1935 foi nomeada professora de Literatura Luso-brasileira e, depois, de Técnica e Crítica Literária na Universidade do então Distrito Federal. Cecília Meireles faleceu no dia 9 de novembro de 1964, em pleno apogeu de sua atividade literária. Recebeu, post mortem, o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra. De fina espiritualidade, sua poesia, sem deixar de ser moderna, mergulha raízes nas essências do simbolismo, caracterizando-se, no plano formal, pela riqueza de recursos estilísticos. Obras principais: Viagem (1938); Vaga música (1942); Mar absoluto (1945); Romanceiro da Inconfidência (1953); Solombra (1964).


Drummond disse: Amar a nossa falta mesma de amor





Amar



Que pode uma criatura senão,

entre criaturas, amar?

amar e esquecer,

amar e malamar,

amar, desamar, amar?

sempre, e até de olhos vidrados amar?



Que pode, pergunto, o ser amoroso,

sozinho, em rotação universal, senão

rodar também, e amar?

amar o que o mar traz à praia,

o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,

é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?



Amar solenemente as palmas do deserto,

o que é entrega ou adoração expectante,

e amar o inóspito, o cru,

um vaso sem flor, um chão de ferro,

e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave

de rapina.Este o nosso destino: amor sem conta,

distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,

doação ilimitada a uma completa ingratidão,

e na concha vazia do amor a procura medrosa,

paciente, de mais e mais amor.



Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa

amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.



Autor: Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de AndradePoeta e prosador brasileiro (Itabira, MG, 1902 – Rio de Janeiro, 1987). Poesia complexa e profunda, de múltiplas facetas: a visão de um universo grotesco, a tristeza e horror à vida, o senso de solidariedade humana, a luta pela expressão. Em gênero mais leve, como a crônica, revela, ora com desencanto, ora com espírito satírico, minuciosa observação do cotidiano. Tem sido traduzido para várias línguas. Obras principais: poesia — Alguma poesia (1930), Brejo das almas (1934), Sentimento do mundo (1940), José (1942), A rosa do povo (1945), A paixão medida (1981), Corpo (1984); crônicas —Contos de aprendiz (1951), Fala amendoeira (1957), Cadeira de balanço (1966), O poder ultrajovem (1972)

Luís de Camões disse: Amor é fogo que arde sem se ver



Amor é fogo que arde sem se ver


Amor é fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer;


É um não querer mais que bem querer;

É solitário andar por entre a gente;

É nunca contentar-se de contente;

É cuidar que se ganha em se perder;


É querer estar preso por vontade;

É servir a quem vence, o vencedor;

É ter com quem nos mata lealdade.


Mas como causar pode seu favor

Nos corações humanos amizade,

Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Amigos compartilham pelo menos as recordações



Mesmo que as pessoas mudem e suas vidas se reorganizem, os amigos devem ser amigos para sempre, mesmo que não tenham nada em comum, somente compartilhar as mesmas recordações.


Vinicius de Moraes

Você se torna responsável pelo que cativa...


O verdadeiro amor nunca se desgasta. Quanto mais se dá mais se tem.




Saint-Exaupèry


Amor é fogo alimentado



O amor e como fogo: para que dure e preciso alimenta-lo.






François La Rochefoucauld

Fernando Pessoa só quer dizer que te ama



Amo como ama o amor.

Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?


Fernando Pessoa

O Amor


O Amor
O amor é a amizade que se incendiou.
Surge como serena compreensão,
confiança, solidariedade e perdão.
O amor permanece fiel no bem e no mal.
Não exige a perfeição
e é tolerante com as fraquezas humanas.
O amor se contenta com o presente;
espera o futuro
e não lamenta o passado.
O amor aceita o dia-a-dia com a sua enfiada
de irritações, problemas, obrigações,
pequenos desapontamentos, grandes vitórias
e objetivos singelos.
Se o amor está na tua vida
ele te ajudará a conquistar o que te falta.
Se não está,
por mais que possuas
nunca será suficiente.

autor desconhecido